Pesquisar

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Resenha : Passarinha .

* Resenha : Passarinha .
Título: Passarinha
Autora: Kathryn Erskine
Editora: Valentina
Número de páginas: 224
‘Passarinha’ é narrado por Caitlin, uma garota de dez anos, autista. Portadora da Síndrome de Asperger*, Caitlin demonstra uma persistência inquestionável e suas características (próprias da síndrome) são bem trabalhadas pela autora durante o livro. Muito habilidosa com desenhos, ela não gosta de cores porque o encontro delas (as cores) é algo muito confuso e inesperado. Por nunca saber ao certo que tom elas adquirem quando se misturam, ela prefere seu ‘mundinho’ preto e branco. Além disso, Caitlin se mostra um tanto impaciente, introspectiva e possui certas manias (como chupar o punho da blusa, ou tremer as mãos, ou fazer bicho de pelúcia). São características muito singulares, aos poucos desvendadas no decorrer da narrativa. Meus olhos estão quentes e coçando e tudo está embaçado por isso lembro uma coisa legal que sei fazer que é borrar as cores e formas para elas ficarem macias e quentes em vez de duras e frias. Chamo a isso de fazer bicho de pelúcia. (páginas 35-36)

*Síndrome de Asperger: um tipo de autismo a qual confere à pessoa portadora a dificuldade de interação social, dificuldade em processar e expressar emoções, interpretação muito literal da linguagem, entre outras características.
Lançamento da editora Valentina, ‘Passarinha’ é marcado por pequenos encantamentos: na linguagem, nas personagens, nos trechos simples e diálogos cotidianos que ‘trabalham’ a própria percepção do leitor. Pois este é um romance verdadeiramente simbólico, onde tudo é parte de um mesmo holograma e faz profundo sentido. O que lhe confere uma grandeza única. (página 9) Caitlin aprende, pouco a pouco, que nem tudo tem um sentido literal, e enquanto ela trabalha em questões como finesse, empatia, ‘Olha Para A Pessoa’, ‘Sua Educação’, ‘Captar O Sentido’ e fazer novas amizades para melhorar a si mesma, aprende mais sobre o convívio com outros. A Sra. Brook diz que a gente pode falar com ela a qualquer hora porque as suas portas estão sempre abertas. Na verdade ela só tem uma e está quase sempre fechada. Mas quando a gente bate ela lembra de abrir. (página 17)
As dificuldades de Caitlin são amenizadas pelos sábios conselhos e ajudas de seu irmão mais velho, o Devon. Isso, até o massacre no Colégio Virginia Dare (que foi um fato real, nos EUA, em 2007), onde o assassinato de uma professora e dois estudantes (dentre eles, Devon) devastou a população daquela cidade. Após a morte do irmão e desde o ‘Dia Em Que A Nossa Vida Desmoronou’ (= Devon faleceu), Caitlin lida com a própria dor que sente, pela falta do irmão, e o pai viúvo, que constantemente chora pelo sofrimento de tal tragédia. 

*A autora Kathryn Erskine escreveu ‘Passarinha’ sensibilizada pela tragédia real do massacre no Colégio Virginia Dare. Porém, os personagens (e respectivas histórias) são fictícios.
No meio disso tudo, Caitlin recebe orientações da bondosa Sra. Brook, na escola, mas mesmo assim ‘sofre’ um pouco porque não tem muita direção do pai, que tanto sofre pelo filho, e também demonstra constantemente o quanto sente a falta de seu irmão. Certo dia, o ouvir a palavra ‘Desfecho’ numa matéria sobre a morte do irmão, no noticiário, se mostra intrigada com o significado da palavra, e procura um‘Desfecho’ para si, que talvez possa ser a solução e o sentido de muita coisa em sua vida.
‘Passarinha’ é um dos livros mais ‘açucarados’ que eu já li. Com uma narrativa essencialmente pura e inocente, é interessante pela doçura e espontaneidade, com doses moderadas de humor e trechos engraçadinhos (da própria autista Caitlin). Os sapatos dela continuam dando gritinhos enquanto cruzam o corredor por isso tenho que andar-correr para alcançá-la por causa do Não Corra Nos Corredores Da Escola. Qual vai ser o esquema agora? (página 57) Apesar de o livro tratar de um assunto sério, com olhares realísticos de desaprovação ou pré-conceitos de crianças (e adultos) sobre o autismo, a linguagem é superleve e fluida (e os capítulos são curtinhos!). É hora do recreio e acho que a Sra. Brook deve ter Asperger também porque ela é muito persistente e essa é uma das minhas habilidades. Ela cismou mesmo com aquela ideia de Vamos Fazer Amigos embora eu esteja deixando muito claro com os olhos que não estou mais interessada na conversa. (página 83) ‘Passarinha’ é mais um daqueles convites ao ‘novo’, ao ‘inusitado’, uma maneira de enxergar mais os outros, menos a nós, e compreender que cada um tem sua importância, seu jeito, seu traço especial. ♥

Vocês gostam desse tipo de leitura? Já encontraram um ‘Desfecho’ para sua vida?

Os olhos são as janelas da alma, diz o Sr. Walters. Quando você olha dentro dos olhos de alguém pode ver muito sobre a pessoa. (Kathryn Erskine, trecho do livro ‘Passarinha’, página 138)

Nenhum comentário:

Postar um comentário