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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Resenha : Claros sinais de loucura .

* Resenha : Claros sinais de loucura . 
[Às vezes a gente faz coisas estranhas e depois fica se perguntando o motivo, enquanto o ventilador de teto gira lá no alto. E, se faço coisas estranhas, isso significa que vou acabar louca como a minha mãe? -página 35]

Título: Claros sinais de loucura
Autora: Karen Harrington
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 256
Classificação pessoal: ♥♥♥♥♥ (muito bom)
Algumas loucuras contagiam, transcendem, passam de mim para você... De você para mim! Mas, se isso fosse *mesmo* uma regra, Sarah Nelson estaria perdida... E desolada! Você nunca conheceu alguém como eu. A menos, é claro, que conheça alguém que tenha sobrevivido a uma tentativa de afogamento pela própria mãe e que agora more com o pai alcoólatra. (página 9) Filha de pais com problemas psicológicos, procura sinais (aos 12 anos) de que ela mesma poderia render-se à loucura - especialmente - à da mãe.
Criada sem a figura materna, separadas após uma trágica tentativa de [a mãe] afogar Sarah e seu irmão gêmeo (que morre aos dois anos neste ato da mãe), Sarah tem que aprender a conviver com o pai alcoólatra, os jornalistas que insistem em lembrar do caso e o anonimato de sua mãe, internada desde o ocorrido. Jane Nelson é minha mãe. Se fizer essa busca, o resultado no Google vai ser: ‘Aproximadamente 821.000 resultados’. Dá para ver que o caso ficou bem famoso na internet. (página 14)
As palavras são pontos de fuga para Sarah, que ‘cultiva’ palavras preferidas e palavras-problema, além de conversar com uma planta e manter dois diários - são alguns elementos que a tiram da realidade difícil que, aos doze anos, enfrenta. O nome do meu irmão é Simon. Só eu estou aqui, viva e contando mentiras. Minha mãe não está morta, só em isolamento. Meu pai bebe. Tenho dois diários. Converso com uma planta. Tenho medo de fazer um trabalho de árvore genealógica e estou tentando imaginar um jeito de pular o sétimo ano. (página 96) Felizmente, há pessoas como Sra. Dupre que tornam as coisas mais fáceis, uma personagem bastante especial (para mim) e fofa na narrativa.

— Se a senhora tivesse uma filha, o que diria a ela?
A Sra. Dupre sorri.
— Ah, deixe-me pensar — responde. — Bem, eu diria: sempre que comprar uma blusa nova ou algum creme para ficar bonita, vá e compre um livro na mesma hora. Também é importante embelezar a mente, não acha? (página 176)
‘Claros sinais de loucura’ ainda conta com aquela metalinguagem que a gente ama: livro falando de livro. Nessa narrativa, Sarah menciona *muito* seu livro preferido (que é, de fato, um livro que existe! YAY!): o clássico da literatura norte-americana ‘O sol é para todos’, de Harper Lee, publicado em 1960. Sarah chega a escrever várias cartas para seu personagem preferido (o advogado Atticus Finch), além de escrever à própria autora do clássico. As palavras rodeiam mesmo a vida de Sarah. Se quer saber, uso tanto meu dicionário que as páginas estão finas e macias. Minhas palavras favoritas estão destacadas em azul. Meu pai odeia que eu escreva nos livros, mas amo palavras de todos os tipos, então é isso que acho que devo fazer. (página 18)
Apesar de os fatos principais da narrativa serem polêmicos - os problemas psicológicos dos pais - a leitura é leve (muito mais do que eu imaginei), com alguns pontos de reflexão e umas pitadas de momentos tristes (como é de se esperar). A protagonista, Sarah, procura deixar tudo mais calmo na maior parte do tempo. Apesar de ser dramática, tem boas linhas de raciocínio e -claro! - um pouco da inocência da idade (por isso a leveza do livro). Não é uma leitura de ‘aventuras e emoções máximas’ (como seria um ‘Jogos Vorazes’ ou um ‘Divergente’); É mais delicado (e um pouquinho mais parado também). A leitura é rápida porque os capítulos são curtos (acaba fluindo!). Corajem, crescimento e descobertas de uma pré-adolescente [menstruação, primeiro beijo] sobrepõem-se, às vezes, à loucura da mãe e ao alcoolismo do pai. Descobri que é preciso escolher ter coragem todos os dias, como se escolhe a camisa que vai vestir. Não é automático. (página 235) ♥

Vocês têm alguma ‘loucura’? Já ouviram falar deste livro?

Às vezes a gente descobre uma palavra nova e pensa: onde você esteve minha vida inteira? (Karen Harrington, trecho do livro ‘Claros sinais de loucura’, página 166)

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